31 de outubro de 2008

porque é que existe um trampolim no pólo norte?
para o urso polar.

porque é que eu comecei a ler antónio lobo antunes?
por causa desta crónica da visão.


"Parece mentira mas neste retrato de escola, aquele ali atrás sou eu. Não desse lado, do outro, vai andando com o dedo se fazes favor, o quinto a contar da esquerda na penúltima fila, essa não é a penúltima, é a antepenúltima, exactamente, aí, penúltima, agora vai andando com o dedo em sentido contrário, devagarinho, o gordo, o de óculos, o ruivo que a preto e branco não se percebe que é ruivo, não se percebem as sardas e a seguir ao ruivo, pronto, este teu criado, talvez o único que não sorri, já preocupado, já grave, já aflito com os mecanismos do mundo que teimam em excedê-lo, repara na franja, nos braços cruzados, na ruga (a ruga, essa, percebe-se) a dividir-lhe a testa, nem era feio pois não, não se pode garantir que bonito mas pelo menos as feições regulares, foi mais tarde que fiquei com o nariz assim quando a minha madrasta bateu a porta no momento em que eu ia a entrar, não era feio nem era competente na ginástica, a minha madrasta dizia que me pesava o rabo, dizia que nunca tinha visto nada tão desajeitado na vida, quando se escolhiam as equipas de futebol era sempre o último, a minha madrasta a reflectir no assunto
- O teu pai também nunca foi grande espingarda em nada
e portanto não ser grande espingarda é uma questão hereditária, não é defeito meu e além disso o desporto não me interessava por aí além, ficava sentado numa pedra a contar as formigas do carreiro e a preocupar-me com o meu rabo pesado, isto na escola, no liceu, na tropa, no emprego não tanto porque não tinha de correr nem dar cambalhotas, aliás no emprego até convém não correr nem dar cambalhotas que o chefe quer-nos compostos e de gravatinha no sítio, se possível pausados, a explicar tudo por ordem aos clientes e pausado sou, o facto de me pesar o rabo ajuda à solenidade, não há problema que não tenha compensação, não é, e julgo que foi isso que te atraiu em mim, o vagar, a educação, o método, a ruga que desde pequeno, na penúltima fila (não na antepenúltima, enganaste-te outra vez) me acompanha, deves ter visto a ruga e pensado
- Até que enfim um homem como deve ser
e começámos a ir ao cinema aos sábados, como amigos, nada de abusos, eu repeitador, delicado, sem mãozinhas marotas, levaste-me a jantar à tua mãe, ofereci-lhe uma orquídea e a tua mãe
- Até que enfim um homem como deve ser
a contar-me, desde o princípio, os dramas da vesícula e eu, a cada pausa dela
- Pois claro
interessado, atento, posso ser uma desgraça na ginástica e no futebol mas interessado, atento
- Pois claro
empenhadíssimo em vesículas, ao terceiro ou quarto jantar um beijo nas escadas, sem arrebatamento nem exageros, casto, breve, e então começou, pausada como eu, a história do enxoval, do andar alugado, dos papelinhos no Registo, dos beijos um pouco mais frequentes, um pouco menos castos mas sem exageros, claro, e no entanto o teu perfume e as tuas pernas entonteciam-me, e no entanto apetecia-me, palavra de honra, acariciar-te o cabelo, cheirar-te a pele, apertar-te, desculpa a franqueza mas apetecia-me apertar-te, sentir-te os ossos, a barriga, o que tenho vergonha de contar, escrevi-te uma carta a falar nisso, andei séculos com ela no bolso e não ta mostrei por decoro, por pudor, por receio de escandalizar-te, a tua mãe
- Um homem como deve ser um bocadinho tímido
a espreitar-me melhor mas continuando a simpatizar comigo dado que mais ninguém lhe aturava os caprichos da vesícula, a tua mãe a cogitar - Não será maricas por acaso?
e não sou maricas, que horror, sou apenas atento e sensível, sou o quinto a contar da esquerda da penúltima fila, vai andando com o dedo e encontras-me conforme me encontras aqui no sofá ao teu lado desde há treze anos (que passaram num instante) a tua mãe acabou por falecer não da vesícula, de um autocarro que em lugar de incluir lá dentro as pessoas que aguardavam na paragem as levou a todas, empurrando-as com o pára-choques, até ao muro a seguir, onde as espalmou contra um anúncio de tourada, a tua mãe ficou nos chifres até os bombeiros a descolarem do cartaz e ainda hoje continuamos em tribunal com a companhia de transportes, o sofá tem três lugares e o dela, o do meio, vazio, nós dois nas pontas e o do meio vazio, dá-me a impressão que na cama também nós dois nas pontas e o lugar do meio vazio, se tento ocupá-lo tu no escuro
- Estou cansada
tu no escuro - Dói-me a cabeça
tu no escuro - Tem paciência Fernando agora não
de maneira que eu na ponta de novo, parece mentira mas na tua vida aquele ali atrás sou eu, há ocasiões em que me pergunto se no caso de dar umas cambalhotas como deve ser ou uns chutos certeiros te interessarias por mim e depois chego à conclusão que estou a ser injusto, te interessas, é uma questão de oportunidade, um dia destes chego a casa e tu toda apinocada à minha espera, tu
- Chega cá
tu
- Seu mauzão
tu, a segurares-me o queixo com o indicador e o polegar
- Quem é a minha coisa mais linda?
e a tua coisa mais linda é aqui o rapaz, não se pode dizer que bonito mas pelo menos as feições regulares, o nariz assim de quando a minha madrasta bateu a porta de repente no momento em que eu ia a entrar mas o resto normal, sou a tua coisa mais linda, sou o teu mauzão e valeu a pena, não é, ter esperado todo este tempo para sermos felizes."

in aquele ali atrás sou eu de antónio lobo antunes (revista visão n.º 675 - 2006)

30 de outubro de 2008

estou a fazer tempo para arrumações.

26 de outubro de 2008

- arrumar e limpar o quarto (com cor diferente porque é urgente )
- arrumar e limpar a sala do pc




mais um post-it mental que deitei fora sem fazer nada do que tinha em lista.
rugas de expressão

23 de outubro de 2008

Porque me apeteceu reler alguns dos seus poemas antes de ir para a caminha, aqui fica, Charles Bukowski x 3.

Boa noite.


8 Count

from my bed
I watch
3 birds
on a telephone
wire.
one flies
off.
then
another.
one is left,
then
it too
is gone.
my typewriter is
tombstone
still.
and I am
reduced to bird
watching.
just thought I'd
let you
know,
fucker.

--------------------

Paris


never
even in calmer times
have I ever
dreamed of
bicycling through that
city
wearing a
beret

and
Camus
always
pissed
me

--------------------
Some People

some people never go crazy.
me, sometimes I'll lie down behind the couch
for 3 or 4 days.
they'll find me there.
it's Cherub, they'll say, and
they pour wine down my throat
rub my chest
sprinkle me with oils.

22 de outubro de 2008

.
.
.
E sabe tão bem descontrair depois do trabalho num barzinho aqui mesmo ao pé...

Rua Diário de Notícias 6 - Lisboa
1200-144

21 de outubro de 2008

.
.
E houve gente, e festa, copos e música.
Socializar nestes casos está sempre em questão. E não basta ter os cartões de visita espalhados por todo o lado.
Temos que dar mais. E eu detesto isso, portanto, estou sempre com a boca cheia de canapés e rissóis... nunca largando o copo de gin e
tentando manter-me ocupada com o que realmente interessa. Comer, beber, e ver arte.

Por vezes, é inevitável, dou por mim a ouvir as mesmas conversas super desinteressantes sobre o porquê de ser azul... Bah!
Mas as vernissages são sempre assim, não é?
- Olha vou lá fora fumar...


E às vezes não volto.

Ou alguém me tira daqui este pacote de bolachas,
ou eu como isto tudo!

Ou alguém me tira daqui este maço de tabaco,
ou eu fumo isto tudo!

Ou alguém me vem tirar daqui,
ou eu saio sozinha!

17 de outubro de 2008



FIM de semana. PRINCÍPIO de FIM-de-semana.

12 de outubro de 2008

.

Gostava de ser mais forte. E conseguir dizer-lhe “gosto de ti”.
Gostava de ter mais tempo. E espaço no meu mundo, para o dela.
Gostava de poder abraçá-la hoje. E amanhã também.
Gostava que gostasse mais de mim. E que viesse ter comigo, agora.




Gostava de ser mais forte. E conseguir dizer-lhe tudo o que sinto.
Gostava que ele tivesse mais tempo. E espaço no seu mundo, para o meu.
Gostava que soubesse que o quero abraçar agora. E sempre.
Gostava de gostar menos dele. E esquecê-lo de vez.

Eu e os cartões... Não. Desta vez foi o do trabalho... E afinal até o tinha na mala. Enfiado no meio da tralhunça, mas na mala.

Eu - Bom dia. Olhe hoje não trouxe o cartão...
Alter Ego - Bom dia. Não trouxe o cartão. Posso subir?
Segurança - Bom dia. Não trouxe o cartão?
Eu - Não.
Alter Ego - Ai... Não trouxe, não. Nicles bataticles. E agora? Vou presa é? É???
Segurança - Então, não o trouxe porquê?
Eu - Porque me esqueci dele em casa.
Alter Ego - Vai levar no cu.
Segurança - Então e porque é que se esqueceu?
Eu - Hã? Porque não me lembrei dele...
Alter Ego - Porque em casa serve de base para copos e de manhã, confesso que não penso em levantar cada um para ver qual deles o tem colado ao cu, além disso, como o senhor é um perfeito incompetente, posso esquecer-me dele as vezes que eu quiser, porque sei que me vai deixar entrar mesmo assim.
Segurança - Sabe que tem de trazer sempre o cartão consigo.
Eu - Pois. Mas hoje não trouxe.
Alter Ego - E você a dar-lhe! É claro que sei. Se não fosse preciso trazer a porra do cartão todos os dias, não estaria a perder o meu tempo com um gajo feio como os macacos, a falar disso.
Segurança - Por hoje passa, mas amanhã se não trouxer o cartão, não a posso deixar subir.
Eu- ...
Alter Ego - Uiii! Que medo do sr. segurança com cara de rabo... pó-cará-lho! Se não te lembras da minha cara e já lá vão 3 meses, não é amanhã que te vais lembrar de mim... AH! e já mudavas de after-shave!


-RAIVA EXORCIZADA-



(E não me venham com merdas que o gajo só está a fazer o trabalho dele.)


Sinto-me um enorme magnete.
Atraio toda a gente.
Bons e maus.
Todos.
(Apaixono-me com essa mesma facilidade)
No final do dia, sento-me a escolher quem interessa.
Às vezes, cansada de tanta atracção, deixo que cada um caia por si com o passar do tempo.
Na verdade é mais fácil assim. Mas eu sempre detestei o incontrolável.


Não sou eu que ando por ali. Subindo e descendo escadas vazias.
Já não passo por lá faz tempo. Ou esqueci-me da última vez.
Ando pelos mesmos caminhos. Oiço as mesmas músicas.
Mas se me chamarem já não me viro. Já não oiço quem me chama.
Não me interesso.

Tenho na memória esta imagem que não foi fotografada. Nela
desço as escadas de um salto só. Os longos cabelos, presos no instantâneo, percorrem o corrimão,
e consigo ainda sentir o meu perfume e ouvir a música que levava comigo nesse dia.
Estava sozinha, e estava feliz.

Continuarei a ver vazias as minhas escadas por enquanto.
Há qualquer coisa na música e na história que me cativa. Há qualquer coisa nos gráficos, nos movimentos fluidos e na atitude do Príncipe que torna o jogo mais do que engraçado.
Nunca me assustei tanto a jogar como quando estava a ser perseguida (neste caso, perseguido, eu era o príncipe), pelo Dahaka (uma estranha sombra que "atravessa" o tempo e persegue o Príncipe ao longo do segundo jogo com apenas um único plano: matá-lo)
E há ainda histórias de amor, de vingança e de traição e jogar, torna-se quase como ver um filme, ou como acontece no segundo, que podemos escolher um dos dois finais, criar um filme.

Porque me arrepio facilmente com coisas bonitas e este vídeo me lembrou que tenho que acabar ainda "Warrior Within" (segundo da trilogia da Ubisoft) e começar o "Two Thrones (terceiro e último), e pela escolha musical do autor, pelas imagens e pelas memórias que tenho do jogo, aqui fica mais um cheirinho de Prince of P... Awesome.




Somos o avatar dos messenger, hi5 e myspace.
Somos os interesses, música, filmes e comentários que “colamos” em cada um desses profiles.
E somos também os textos que escrevemos em blogues.
Somos o que descobrimos e lemos no google.
Somos e vivemos a geração internética dos amigos virtuais, internacionais e inter pares.
Viciados em tecnologia, separação do lixo, reciclagem e tempos livres.
Pertençemos à classe dos trintinhas que ainda vivem com os pais. Os novos inimputáveis e os fervorosos part-timers.
Somos os perseverantes ex-adolescentes sem dinheiro, sem trabalho e sem perspectivas a longo prazo.
Somos os que ainda não conseguem poupar nem descontar.
Os eternos filhos e nunca, nunca pais.
Num reduto final, somos os novos emigrantes, navegadores e conquistadores, que da ocidental praia Lusitana saem à procura das novas índias modernas.



como seria de esperar, hoje toda a gente fala de futebol, mesmo aqueles que não sabem o nome dos jogadores, opinam e alvitram sobre o jogo de ontem entre Portugal e Alemanha, em Basileia na Suíça. eu não gosto de futebol. acompanho alguns jogos da selecção por puro desporto, o que até é irónico, porque o que gosto realmente é de estar acompanhada com os amigos, ver-lhes as reacções durante o encontro e saborear com eles o prazer da vitória. ahahah, e saboreamos a derrota também, porque é nossa e isso ninguém nos tira. e assim, qualquer um dos desfechos é motivo suficiente para festejar.
Portugal perdeu, e apesar de também achar que fomos roubados pelo árbitro, que ignorou faltas atrás de faltas a favor dos alemães, não se esquecendo de apontar todas e mais algumas contra nós, a verdade é que a equipa só jogou bem nos últimos 5 minutos... é o chamado carácter "lusco-fusco" dos nossos jogadores.
há ali uns segundos em que os gajos, sentindo a pressão do final do tempo de compensação, até jogam bem e conseguem marcar o golo que era esperado logo ao início da partida, mas enfim, o que interessa é o amor.
e eu que não ia falar de futebol. eu que não quero falar de futebol quando toda a gente o está a fazer. eu que nem sequer gosto de futebol, deu-me para isto!
bah!
este texto ia ser imprevisível, descontraído e diferente. Não ia falar de Portugal, de futebol ou de bandeiras nacionais.
podia falar das 3 vernissages a que compareci depois do jogo. podia falar da falta de bebida em duas delas e da grande qualidade dos gin tónicos da segunda. que por acaso, e só por acaso era de um artista alemão.
podia falar disto tudo e ainda comentar a arte. mas como o título do post já diz tudo, fico-me pela minha previsibilidade e saio de fininho com o rabinho entre as pernas para não me armar em fingida a atirar para o melindrado.

e ps: o torneio de wimbledon está à porta e ao contrário do que aconteceu no futebol, desta vez quero que a Suíça ganhe, pelas mãos do Federer.


Não sou gaja de muita manutenção. Mas é claro que gosto de sair de casa fresca e fofa.
É raro usar maquilhagem, grandes penteados ou saltos altos.
Roupas caras com brilhantes ou colares de pérolas, anéis ou brincos é para esquecer.
Sou "low profile" mas tenho bom gosto.
Sou de "trato fácil" e gosto de coisas simples, como ficar em casa a ver filmes ao serão ou a jogar ou por outro lado, sair à noite e ser convidada para ver a Orquestra Filarmónica de Berlim na Staatsoper alemã, depois de ter comido na Mcdonald's de Potsdamer Platz.
Acredito nos cremes hidratantes, super-hidratantes e gordos, apesar de ter a sorte de ter nascido com uma pele fantástica que só no verão pede uma hidratação mais prolongada e duradoura.
Uso champô para cabelos normais, mas escolho sempre um amaciador bom, que uso moderadamente.
Não sou nenhuma fashion victim, e até detesto ir às compras, mas quando o faço tenho o vício de comprar casacos e malas nos saldos e lojas baratas, que me vão enchendo o roupeiro.
Gosto de duches rápidos mas também de banhos demorados, e uso esfoliantes, máscaras de beleza e sais de banho de vez em quando.
Gosto da minha Silk.Épil - SoftPerfection da Braun que me deixa a pele macia e bonita mas uso também cremes Veet e Gilletes.

Nem sempre perco muito tempo comigo, mas quando o faço como hoje, imagino-me num verdadeiro spa e isso relaxa-me e sabe-me bem.

E viva o verão!


ps: só o desenho da cara e do cabelo é que é da minha autoria.
Esta "mulher" azul, que na imagem tem a minha fronha, é a Inteligência Artificial que dá pelo nome de Cortana, por vezes em forma de holograma, que faz parte integrante do jogo da Microsoft, Halo. É uma das personagens que ajuda o Master Chief (o herói) nos seus combates entre raças alienígenas.

Confesso que tenho vários vícios, um deles, é o do jogo. E dentro deste, encontra-se o supra sumo que já me dura há vários anos, (primeiro na xbox e agora no pc) e que é o "Halo: Combat Evolved" versão multiplayer online. (A versão Campaign em single player prefiro ver jogar.)


Nele sou a barbarella. Vestida como todos os outros jogadores, mas de rosa.
Nele sou, muitas das vezes uma sniper perfeccionista, outras uma "professional flag retriever"(expressão roubada ao biohazard) e quase sempre, uma esforçada atiradora de granadas kamikaze.
Adoro as caçadeiras e os "melees". Conduzo os hogs (carros) com a perícia de um condutor de pesados (ehehe) e como seria de esperar, procuro melhorar em cada jogo, todas as técnicas usadas. Às vezes consigo ser uma exibicionista do caraças!

vício

do Lat. vitiu

s. m.,
hábito de proceder mal;
costume censurável ou condenável;
costumeira;
hábito prejudicial;
libertinagem;
defeito;
acção indecorosa que se pratica por hábito;
viciação;
erro;
dolo.


Sim... é exactamente isto tudo que me acontece ao jogar Halo Multiplayer. Mas também é outras coisas. É, por exemplo, descontrair e passar um bom bocado. É saber que existem "mods" e fraudes do género que permitem ser-se o melhor, mas optar pelo "fair play" e ser a melhor mesmo assim. É jogar em equipa e sentir o "trabalho" de todos. É ver pessoal novo que ainda não sabe disparar a direito (o que é realmente engraçado) e sentir, ao mesmo tempo, carinho e compaixão. Mas é principalmente, perder a consciência, pelo menos durante o tempo do jogo, da merda de mundo em que vivo, para descobrir a merda do jogo que estou a fazer.



Vivam os jogos em moderação, excelentes anestésicos para o mal humano! VIVAM!

.


estou lixada, e isto para não dizer um sinónimo bem mais forte.

há pessoas que por serem bichos do mato, enormes aves de rapina... ex-predadores diurnos que agora se escondem da luz e vivem numa outra selva, ou ex-pessoas que perderam o tacto e com ele o senso crítico, mas que mantêm a mania de o fazer, deitando abaixo muros sentimentais e intelectuais para continuarem a sua arrogância em tom de sarcasmo e com a qual sobrevivem quando nada mais lhes enche o bucho, não conhecem o significado da expressão "
reforço positivo".

confesso que desde pequena sei o que isso é, apesar de só há relativamente pouco tempo ter conhecimento da expressão. acredito que a maior parte das pessoas com quem me dou, também saiba o que isso é. e tal como eu, o usa para estimulação comportamental, quer própria, quer de outrem.
mas, consigo também perceber que haja pessoas que, mesmo sabendo o que isso significa, não lhe dão uso porque não o sabem fazer. porque talvez, por outro lado, foram ensinadas a construir a sua personalidade com base no adverso.

acredito que o reforço positivo faz parte integrante da minha educação. completa-me, evidentemente, positivamente. mas ou mesmo tempo, acho que me retira a faculdade de perceber que nem sempre existe uma recompensa ou estímulo por detrás de uma crítica, e por mais que tente perceber se é por isso que me sinto apática ou pouco substancial numa discussão, não consigo chegar a uma conclusão satisfatória.

(fdx! quando era mais nova desenhava a lápis de cor nas paredes de casa e o que os meus pais faziam era aplaudir o meu trabalho e mostrá-lo depois, aos familiares e amigos!) - e isto é lindo!

estou lixada sim, e isto porque apesar de o perceber, não aceito, porque não lido bem com qualquer reforço negativo, que não é mais do que uma condenação desprovida de emoção. qualquer coisa que, de tão demasiadamente autoritária e correctiva, me coloca numa situação de tremenda fragilidade e susceptibilidade.


falamos em inglês porque ele é irlandês. e ontem apontou que eu não aceito bem a crítica.
ao que eu lhe disse: "there's criticism and criticism, and then there's also sarcasm". e eu sei que ele não me estava nem a criticar, nem a criticar!
disse-me ainda que não é a barreira da língua que se interpõe no meu caminho para uma boa argumentação/explicação, logo, também deveria ser capaz de distinguir uma crítica de uma gozação. devendo, por isso, aceitar a sua que, como ele explicou, não foi mais que directa, exacta e sincera.


mas ok, se realmente não é a língua que barra o caminho à fluidez de um discurso sincero, correcto e primeiro que tudo, directo e sentido, (e apesar dele não perceber português) o resto da minha altercação foi escrita na língua de camões.
Quando entro num local desconhecido, e observo quem o ocupa, dependendo do tempo, consigo saber se sou ou não melhor que a maior parte de todos quantos ali estão.
Não é para me gabar a ninguém pois nunca faço regozijo dessa análise. É sim, por mania e puro subjectivismo.

Aborrecem-me as pessoas que, constantemente, erram a escrever ou a falar quando deviam saber mais que isso. Sou melhor que elas porque descubro a fraude que são; aborrecem-me as pessoas que fazem tudo e se metem em tudo e que apelidam toda a gente de inúteis, para depois chorarem aos quatro cantos que não têm tempo para nada. Sou melhor que elas porque vivo; Aborrecem-me as pessoas que adoram o confronto e as discussões em voz alta e esganiçada que põem qualquer um em cheque, não me deixando sequer defender porque simplesmente não ouvem outra voz que não a delas. Sou melhor que elas porque sei que tenho razão e nem preciso de o dizer em voz alta; Aborrecem-me as pessoas depressivas, maníacas das doenças e de sofrimentos em catadupa, falando sempre desesperadamente e que tentam agarrar qualquer um para o abismo onde dizem viver, com uma naturalidade anormal e doentia. Sou melhor que elas porque me sinto normal; aborrecem-me as pessoas que falam de tudo e de nada em demasia, ganhando com isso, espaço, tempo e protagonismo. Sou melhor que elas porque as rotulo silenciosamente de ocas por dentro com rococós por fora.


Há um grande grupo de pessoas com quem convivo. Há um outro, mais pequeno, com quem partilho interesses e compatibilidades. Há um terceiro e último grupo, com quem faço tudo isto e ainda aprendo, ensino, vivo e desfruto. Neste, tudo se coaduna e resulta.

Somos animais sociais e por isso vivemos em grupo, uns com os outros e cada um com a sua idiossincrasia, e como tal, podemos e devemos escolher os nossos pares.


No final desta introspecção à laia de exorcismo, ficam as minhas duas observações:

1 - sou melhor que todos os elementos do primeiro e segundo grupo.
2 - do terceiro, sou par e melhor é quase impossível.

(resposta ao post Procrastinação do blog Val'nada inc.)
...e do que li aqui, senti-me compelida
a acrescentar um pouco mais, porque, o amor é e pronto!
O amor é tudo e nada ao mesmo tempo.
É calor, protecção e abuso.
É estranho, amigo e aliado.
O amor é tudo junto.
O amor sente-se nas coisas que fazemos, mas o amor também
se perde, esgota-se e consome-nos.
E então, o amor foi.
Foi uma paixão que nasceu de um toque e nunca de uma
traição.

O amor é tal e qual o que cada um quer.
O amor é a lotaria que sorteia beijos, carícias, sexo...
felicidade. Mas é também um jogo de contradições.

O amor foi o que sofremos no passado, mas é também este
sentimento desvirtuado na virtualidade do tempo em que vivemos
agora. O amor é o tempo em que vivemos agora.
(Rápido, fugaz e pragmático)

O amor sou eu e mais qualquer coisa que sinto,
quando sinto qualquer coisa por alguém.
Por isso, o amor é esse alguém e tudo o que faço à volta
dele.

O amor é também ninguém.
Alguém que não se conhece fisicamente, mas que criamos
mentalmente para dar um corpo e uma cara, às palavras que
lemos.
E o amor são os sonhos que temos com essa pessoa.
Seja ela atingível ou não.

Porque o amor não escolhe.
O amor apenas é. E ao sê-lo, faz de nós pessoas mais fracas,
impressionáveis, desesperadamente românticas,
mas ao mesmo tempo intensas e verdadeiras.


Ok.
Começou a explicar-me qualquer coisa. Estou atenta. Recebo toda a informação que desconheço e o meu cérebro comporta-se como um cérebro normal; guardando a informação necessária, e deixando de lado a que não interessa.
Até agora, parece-me bem.
O problema é quando a explicação se alonga em ítems, pontos e parágrafos e Powerpoint floridos com músicas de elevador para justificar e exemplificar uma coisa que eu já percebi.
É aqui, que no meu cérebro se desenrola uma nova acção. Não mais a de arquivação de informação, mas sim a de arrumação da arquivação. Ou seja. Deixei de estar atenta à explicação, para me concentrar em arrumar as pequenas caixas ou módulos, no meu cérebro. E isto tem tanto de obsessivo compulsivo como de estranho e neurótico.
Sim, o resto do monólogo, barra, explicação, prossegue e eu continuo a ouvir, mas muito vagamente, apesar de estarmos só os dois na sala, de ele estar sentado na mesma mesa, a 5 palmos de mim e à minha frente.
Aceno com a cabeça, solto onomatopeias mas, jogo tetris com a informação que tinha recebido há 5 minutos atrás, na minha mente. E para parar de arrumar as tais caixas umas em cima das outras, desviar as anteriores e colocá-las outra vez no mesmo sítio... basta apenas uma palavra ou uma acção. E ele conseguiu essa palavra.
E estou novamente atenta até à próxima explicação pormenorizadamente especificada que me leva ao bocejo mental.

A parte de o imaginar nu e de morder os lábios para não me rir às gargalhadas só acontece muito raramente. É preciso preencher certos requisitos... Hoje foi uma dessas raras ocasiões. E o facto dele ser do norte e ter um sotaque engraçado também não ajudou muito.


acordei com os olhos mais pequenos... pequeninos.
não pude deixar de achar engraçado estar parecida com a Bjork
mas ao mesmo tempo, algo em mim voltou a chorar por dentro.
e agora, num pessimismo visionário que me parece normal de
quem está com SPM, observo os mesmos olhos semi-fechados,
semi-soterrados por pele que cada vez se torna mais frágil, mais macia...
mais moldável.

e se há um medo de que eu realmente tenho muito medo, é o de
acordar amanhã sem conseguir ver bem os meus olhos.
sem conseguir ver bem quase nada.
e quase nada será tudo o que eu preciso.


Tu cortaste a unha do meio do dedo
do meio
da mão direita
muito rente
e começaste a esfregar-me a cona
enquanto eu me sentava direita na cama
espalhando loção pelos braços
cara
e seios
depois do banho.
então acendi um cigarro.
"Não deixes que isto te afaste,"
e fumei e continuei a esfregar
a loção.
Tu continuaste a esfregar-me a cona.
"Queres uma maçã?"
Perguntaste-me.

"I cut the middle fingernail of the middle
finger
right hand
real short
and I began rubbing along her cunt
as she sat upright in bed
spreading lotion over her arms
face
and breasts
after bathing.
then she lit a cigarette
"don't let this put you off,"
and smoked and continued to rub
the lotion on.
I continued to rub the cunt.
"You want an apple?"
I asked."

Ele cortou a unha do meio do dedo
do meio
da mão direita
muito rente
e começou a esfregar-lhe a cona
enquanto ela se sentava direita na cama
espalhando loção pelos braços
cara
e seios
depois do banho.
então ela acendeu um cigarro.
"Não deixes que isto te afaste,"
e fumou e continuou a esfregar
a loção.
Ele continuou a esfregar-lhe a cona.
"Queres uma maçã?"
Perguntou-lhe.


(Charles Bukowski & Eu)
O primeiro chega a casa, depois do trabalho todos os dias à mesma hora.
Encarrega-se de dar de comer aos gatos.
Encarrega-se de dar de comer também ao seu estômago.
Umas torradinhas com chá, porque já são 30 e qualquer coisa de mais "pesado" a esta hora pode fazer mal.
Senta-se no sofá.
Liga a televisão e descansa o cérebro, como ele diz, pelo menos 1 hora, antes de ver os mails, ouvir um pouco de música no Mac, talvez falar com alguém pelo Msn...
Por volta das 21h aquece o jantar, quando o tem já preparado do dia anterior. Senão, cozinha qualquer coisa rápida. Não muito calórica, não muito pesada.
É que já são 30 e as duas horas e meia de digestão, ultimamente parecem 4h.
Janta sozinho em frente à televisão.
Os gatos serpenteiam-no e ele fala com eles.
Acabado de jantar, dirige-se novamente para a cozinha. Coloca o avental azul, que só ele usa. Lava a loiça do jantar e volta para a sala.
Hoje também não sai à noite. Exercício inútil o de o convidar.
Volta para a televisão, se estiver a dar a tal série, ou volta para o Mac.
À meia noite, desliga tudo. Lava os dentes, veste o pijama azul e deita-se.
Às 8h, invariavelmente, acorda. Levanta-se e toma banho de 15 min. Seca o cabelo ainda com a porta da casa-de-banho fechada.
Veste-se.
Por volta das 8h30 prepara o pequeno-almoço. Invariavelmente, torradas.
Perfuma-se e sai de casa, todos os dias às 9h.

O segundo, chega a casa se por acaso tiver saído dela.
Raramente se encarrega de dar de comer aos gatos, porque o primeiro 30 chegou primeiro.
Raramente se encarrega de ouvir o seu estômago. Come quando se lembra, e o que quer que seja, desde que seja rápido.
Raramente se senta no sofá.
E são poucas as vezes que liga a televisão.
No Pc, por várias vezes, repete as mesmas acções que fez durante todo o dia.
Vê mails que estão vazios. Porque leu tudo 5 min antes. Saca música, muita...
E conta já com muitas horas de conversação com os amigos pelo Msn.
Um dos gatos costuma saltar para o seu colo. Mas a cadeira gira sempre e o bichano, salta de um impulso.
Às vezes não janta. Come qualquer coisa, desde que seja rápido.
Costuma sair com os amigos para um café.
Vai ao cinema de vez em quando, quando tem dinheiro.
Costuma fazer noitadas, quando tem dinheiro.
Chega a casa tarde, quando sai. Tenta fazer o mínimo de barulho para não acordar o primeiro, por isso só lava os dentes de manhã.
Despe-se e enfia-se na cama ainda desfeita. Nunca tem pijama.
Acorda quando já está cansado demais de dormir.
Levanta-se e veste qualquer coisa.
Liga o Pc e enquanto isso, vai à cozinha procurar o que comer no frigorífico.
Toma banho e demora imenso tempo a escolher o vai vestir.
Às vezes lá sai de casa a tempo de ver o sol.
Outras, não.
Domingo, 10h30 da manhã, frio de neve por estes lados, onde nunca neva, mas com sol.
Tínhamos combinado encontrar-nos no metro dos Anjos.
(eu, Sara, mano dela e João)
Íamos ver a exposição "Centre Pompidou Novos Media 1965-2003" no Museu do Chiado.
Aos Domingos, até às 14h não se paga os € 3 de entrada.
É grátis.
No total, de 23 obras dos 19 artistas, posso dizer que gostei de 15.
As mais antigas, dos primórdios do vídeo, foram as que mais me cativaram pelo seu lado experimental. Assim, refiro que gostei e aprendi com o Jean-Luc Godard e o seu "Prólogo Posterior" ao seu filme Passión. Uma espécie de making-of juntamente com aula sobre vídeo com as suas teorias rebuscadas.
Ri-me com os bonecos de trapos do Tony Oursler, espalhados pelo museu em sítios inesperados com projecções de várias caras conhecidas na cara de cada boneco. Com diálogos estranhos que pareciam falar de nós, espectadores. Um deles, mesmo no início das escadas para o primeiro piso era o David Bowie que falava sobre o gajo que estava "ali atrás" de t-shirt a mexer-se demasiado.
Do Bruce Nauman, retive os vários vídeos de vigilância espalhados pelo museu e os diferentes espaços e tempos em que cada espectador aparecia. Éramos ao mesmo tempo o observado e o observador.
Do escritor Samuel Beckett gostei de o saber empreendedor nas novas tecnologias, quando um ano antes de morrer, preparou uma performance, "nervosa" de 4 figuras humanas que se envolviam num cubículo. À volta de um ponto no meio do chão. Equilibrado pelos sons dos pés a arrastarem-se. As 4 figuras vestiam capas coloridas.
Por fim, vou falar da obra que mais me tocou. Esta de 1989. Chama-se "Site Recite (a prologue)" e é do Gary Hill.
Uma televisão, com fones e um banco preto à frente.

Sentei-me já com os fones.
A imagem compreendia vários objectos desde, conchas, folhas, bichos mortos, caveira e papéis, dispostos numa mesa. A linguagem era horizontal. E cada objecto filmado em close up. Do último que estava atrás ao primeiro que estava à frente de todos os outros. À medida que se iam focando os mais próximos, os outros desfocavam-se. Era tudo muito rápido.
Grande experiência só por isto. Mas havia mais. Os fones, sim.

Havia som. Um poema do Gary Hill com 4 min ( o tempo do filme) pela voz ressonante de Lou Hetler, que transcrevo a seguir.
Lindo.







Site Recite (a Prologue)

"Nothing seems to have ever been moved. There is something of every description which
can only be a trap. Maybe it all moves proportionately cancelling out change and the
estrangement of judgement. No, an other order pervades. It's happening all at once, I'm
just a disturbance wrapped up in myself, a kind of ghost vampirically passing through the
forest passing through the trees.
A vague language drapes everything but the walls — what walls? The very walls that
never vary — my enclosure, so glorious from a distance, stands on the brink of nothing
like a four legged table. What is it? An island with a never ending approach? A stopgap
from when to where? Something to huddle over with my elbows like trestles without
tracks, the bases of which are scattered with evidence of unsolved crimes? The
overallness of it all soaks through, runs through the holes in my hands and continues to
run amok, overturning rocks that should not be overturned, breaking bread that should
not be broken.

The sun will rise and I won't know what to do with it. Its beak will torture me as will its
slow movement, the movement it invented that I can only reiterate.
The quieter and stiller I become the livelier everything else seems to get. The longer I wait
the more the little deaths pile up.
Bodily sustenance is no longer an excuse. Too much time goes by to take it by surprise.
So much remains. No doubt it can all be counted. Starting with any one, continuing on
with any other one until all is accounted for, a consensus is reached. That it can all be
shelved in all its quantized splendour, this then is the turf.
These sightings. This scene before me made up of just so many just views (nature's
constituency) sits with indifference to the centripetal vanishing point that mentality
posits so falsely. Brain, minding business, incessantly constructs an infinite series
of makeshifts designed to perpetuate the picture--the one like all others that holds
its breath for a thousand words, conversely exhales point zero zero one pictures.


This insidious wraparound, tied to the notion "I have eyes in the back of my head,"
binds me to my double, implodes my being to a mere word as it winds the world around
my mouth. A seamless scroll weaves my view back into place--back to back with
itself--the boomerang effect, decapitates any and all hallucinations leaving (lo and behold)
the naked eye, stalking each and every utterance that breaks and enters the dormitories of
perception. I must become a warrior of self-consciousness and move my body to move
my mind to move the words to move my mouth to spin the spur of the moment.
Imagining the brain closer than the eyes."

(Gary Hill)



Ao acordar dirigiu-se para a casa-de-banho. Precisava de um banho e de pôr as ideias em ordem.
No espelho, sob o lavatório, um papel pendurado dizia:

"Nem sei porque estou a escrever-te. Na verdade, nao me sinto culpada por te ter julgado, na altura foi o pior que me saiu e eu queria magoar-te... sei lá.
Já não sei o que pensas de mim... se calhar o que aconteceu foi deixarmos de ter a ver um com o outro.
(hmmm... nao sei se te deixo isto. No fim decido)

Sabes, é estúpido, quando não conseguimos dizer tudo a pessoas com quem partilhamos tempo e coisas.
Não sei se isto é um pedido de desculpas, porque mesmo que o seja, não sei se mudará alguma coisa.
A verdade é que também não sei se quero que mude.

Sei apenas que magoei uma das pessoas que mais amo.
(ainda nao sei se te deixo isto)
O que realmente me chateia, e acho que isso faz parte deste meu problema, (agora é que não deixo mesmo) foi nunca ter deixado de pensar em ti como possível marido e pai dos meus filhos...

Espero que por isto me perdoes um dia.

Sabes, se ela nascesse, dar-lhe-ia o nome de Alice. Sei que é uma das histórias que contas aos teus filhos, vi o livro no quarto da Joana...

Agora que consegui finalmente dizer-to, acho que resolvi o assunto que tinha por acabar. Adeus."

Ao voltar-se para trás, viu na banheira a mulher que tinha amado na noite anterior, a amante e a amiga que conhecia desde pequeno, com os pulsos cortados.












Tenho escrito.
Às vezes, nem eu percebo o que escrevo mas é normal, porque as outras pessoas
que me lêem, também não. Mas isso é n o r m a l, repito.
Estamos todos a entrar numa fase de individualidade, à qual também eu não fujo.
Como individual, o meu espaço físico, psicológico e social, resume-se a Eu. E como tal
só me percebo a mim, só me conheço a mim e só me quero e dou a mim.
Neste “EU MUNDO” tenho uma família “enlatada”, amigos “concentrados”, trabalhos “xs” e espaços limitados pelo espaço do meu computador.
(raramente descruzo as pernas – as acções são quase nulas)
O corpo começa a dar sinal de si...(é a palma da mão direita que dói)
Também tenho desenhado muito ultimamente.
(as horas ao computador são a única coisa que tenho a mais neste EU)
Mas não me quero queixar. Raramente o faço.
Até porque há coisas que se queixam por mim, para mim. E isso até é justo!
As minhas mãos mostraram-me ontem mazelas. Uma feia calosidade vermelha entre a união do pulso com a palma.
O meu pescoço e costas por vezes gritam por descanso em forma de dores agudas.
E até o meu cóccix tem estado refilão.
Mas isto não é nada, nem sequer me levem a sério. Leiam isto como um romance ficcional.
Nada mais que uma espécie de “muro das lamentações” para dar voz a partes do meu corpo.

Nada disto é real!
Está bom assim?
Isto não tinha começado para ser isto. Mas já que o foi, agora quero que isto seja
também uma espécie de agradecimento ao meu corpo:
Mãos, quero que saibam que estou orgulhosa de vocês. Mesmo com essas
unhas feias e dedos atarracados.
Pescoço obrigada pelo “apoio”.
(esta até foi engraçada)
E cóccix, tu és e serás sempre “único e especial”.
A todos os outros membros, músculos, ossos, articulações, órgãos, pele, zonas e sentidos
do meu corpo, um grande bem-haja porque sem eles, nada disto seria possível.